sábado, 15 de novembro de 2014

Artista transforma palha de milho em arte sacra

Devoto e muito fervoroso, Aristides Antônio Almeida declara que este dom foi uma “resposta de Deus” as suas orações, pois chegou a passar fome junto com sua família, e de tanto pedir um milagre, este veio em forma de figuras sacras feitas na palha de milho.

Itararé é conhecida como terra do milho e do feijão. E foi aproveitando o refugo de uma destas culturas de nossa terra, a palha de milho, que um artesão começou a sustentar a sua família.

Com motivos sacros, Aristides Antônio Almeida (45), vai divulgando a sua religiosidade e o amor por Itararé em todas as exposições que participa.
A delicadeza, simplicidade e principalmente a beleza deste trabalho realizado em família, é de um encantamento a primeira vista e difícil de acreditar.

Casado com Maria José Rodrigues de Almeida, o casal teve três filhos, Fabiano (25), Renata (23) e Patrick (21). “Todos nós vamos colher cipó e outros materiais no mato e em propriedades como sítios e fazendas, para junto com a palha de milho, montar as peças”, diz Aristides.

Antes de trabalhar com a palha, trabalhou com cerâmica, pintura e dobraduras de arame, mas sempre procurou algo que pudesse se destacar e diferenciar de outros artistas.

Um dia, inspirado num quadro da Santa Ceia que tinha em sua casa, teve a ideia de reproduzi-la em palha de milho.

Esta ideia lhe rendeu frutos e hoje todo o sustento de sua família vem deste trabalho, mas ele conta que antes de fazer esta arte teve muita dificuldade e chegou a passar fome. “Trabalhei como servente de pedreiro, mas era difícil, pois nem sempre tinha serviço” conta Aristides, e foi com o incentivo do próprio filho Fabiano e da esposa, que ele sentiu que poderia viver do artesanato. “Faz doze anos que eu comecei com este trabalho em palha e nos três primeiros foi muito difícil” comenta Aristides e completa “eu quase desisti, mas hoje eu não troco por nada”.
A palha que Aristides utiliza em suas peças, ele compra do “seu” Mário que mora na localidade do Morro Chato e do bairro da Enxovia.

Muito cuidadoso em tudo que faz, Aristides diz que não utiliza veneno na palha de milho, pois sabe que depois de pronta, muitas crianças acabam pegando na peça e com isso podem se intoxicar ou lhes causar algum tipo de alergia. Para combater os fungos naturais da palha, ele ferve todas elas por pelo menos meia hora, além de utilizar somente a terceira palha do milho - aquela que fica mais próximo a espiga - e portanto tem menos contato com qualquer defensivo agrícola.

Em todas as suas peças, Aristides utiliza também cascas de eucalipto, cipó e algo que só se encontra em nossa região que é o “pente de macaco”.

Mas Aristides faz questão de lembrar, que ele só tira da natureza aquilo que ela “descarta”, ou seja, ele não agride ou explora sem permissão dos proprietários de sítios, fazendas ou matas ciliares de propriedade do governo. Somente um tipo de cipó, o São João, é que ele utiliza, pois sabe que há outras duas espécies que não são permitidas a extração.

Atualmente, o artista tem convênio com a Sutaco de São Paulo que adquire boa parte de sua produção para revender em vários locais do país e até mesmo no exterior, como na Itália, Espanha, Roma e até mesmo na terra em que Jesus nasceu: Belém.

Mas Aristides faz questão de dizer que todas as suas peças sempre são vendidas com o seu nome e a cidade de Itararé, pois se orgulha disto.

Participante de várias exposições, Aristides tem levado o nome de Itararé para vários lugares, principalmente para São Paulo, Vale do Ribeira e Vale do Paraíba.

Para os que estão na luta pelo artesanato como ele, Aristides aconselha “a nunca desistirem e fazer sempre com muito amor e dedicação” e termina dizendo “sempre procure algo que possa diferenciar o seu trabalho, pois fazer o que todo mundo faz é muito mais difícil de crescer e dar certo”. 

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